A morte ronda os moribundos, lhes acossa. Na palidez do enfermo, no seu olhar perdido se reflete a invisível e vigilante presença da morte que espera paciente uma conjuração de circunstancias. Enquanto isso se desencadeia um brutal conflito interno que os doente vivenciam. Uns impávidos, outros desesperados; alguns de imediato se entregam, outros combatem com alegria. Uns sairão andando pela vida; outros cairão lentamente; uns contarão no bar, à seus amigos, aos seus filhos e netos aquela peleja; à outros lhes espera o silencio do mundo dos vivos, lugar para onde, mais cedo ou mais tarde, vamos todos um dia.
A morte tem paciência e não tiro olho da batalha interna que enfrenta cada um. Aqueles que aceitam a efemeridade da vida e das circunstancias, que estamos todos de passagem aqui atraem com seu sorriso a fortuna. Os que têm vertigem e vêm seu fim desenhado no fundo do abismo e se sentem cansados, descontentes e infelizes são acompanhados com predileção pela morte. Estes já estão convencidos e o tênue fio que os sustenta pende de seu apego ao mundo e às coisas materiais; perde-lo é o abismo em que imaginam seu fim.
Aqueles primeiros e poucos, com sua convicção não se permitem apegar-se ao que não cabe na “bagagem” espiritual, único bem que se pode levar consigo aonde quer que vá. Nela cabem sensações recolhidas ao longo da vida, com que vamos compondo um patrimônio invisível, porém suficientemente forte, um tronco da alma; ao ponto de poder caracterizar-nos como felizes ou tristes, fortes ou fracos, aspectos estes, importantes e decisivos no momento final.

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