Cartaz de Cinema



Por vezes sinto a morte passar perto de mim; ora em alguém que morre junto da gente, ora em quem, pela morte seduzido, sem saber, com palavras salvei. Um tiro já me pegou de raspão. Numa viagem pela rodovia 381 vi a vô pela greta. Mesmo meu cachorrinho, por estes dias, num acesso foi sondado; não fosse as fortes massagens feitas em seu peito teria ido. E tantos ela tem levado; de mim levou um grande amigo de infância, os avós maternos e alguns conhecidos... , e eu que não esqueço amigos de infância, que sou o primeiro neto de meus avós maternos...
A vida, porém, me sorri todos os dias, como donzela debruçada em janela de casarão antigo, numa rua que é meu caminho diário. Inocente ou indiferente ela ignora a morte a espreitar nosso namoro, flerta comigo. Penso nela (a vida) o dia todo, as coisas mais sutis me levam a ela: um cartaz de cinema, um casal de andorinhas a brincar no beiral do telhado, um pacote de viagens. Eterno enamorado não quero perder nenhuma cena da vida, todos os dias em meu percurso diário vou atento às janelas, às donzelas que, por ventura ali possam posar.
Enciumada, a morte ainda prega-me alguns sustos, vejo em manchetes tragédias, chacinas, massacres, sempre aquelas ameaças. Mesmo assim desço diariamente a rua, torço pela conservação daqueles velhos casarões, assumo de público meu amor pela vida e sigo atento às janelas e às pessoas que nela se debruçam. Por um simples sorriso ou mesmo um adeus.

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